
" É isso que eu tenho que fazer..." Pensava enquanto olhava para a menina loira sentada no canto esquerdo da sala, bem na frente, a carteira dela era a mais próxima da portada sala. Antes que eu pudesse pensar em algo mais sinto uma mão no meu ombro.
- Amigo o sinal tocou,não fico mais nem um minuto nessa aula chata.
Quando me viro era o Zé Carlos falando. Zé e eu somos amigos desde do jardim de infância e também vizinhos, sempre voltamos pra casa juntos e ele sempre é o primeiro a sair da escola.
Quando abri a boca pra responder ao meu amigo outra voz me cortou a fala:
-Ele estava de olho na Denise nem tava prestando atenção em você Zé.
Pulando do fundo da sala surge Julia, a menina mais implicante que eu conheço, minha amiga também de longa data e também mora perto da gente. Eu e o Zé conhecemos ela quando ela caiu da árvore que tem lá perto de casa,fez um enorme barulho no chão,mas só quebrou o braço.Lembro como se fosse ontem, não tinha mais ninguém na rua e ninguém na casa dela,acabou que foi a gente que teve que socorrer ela.Quando o pai dela chegou no hospital lá estava eu,minha mãe, o Zé e sua avó.Chegou com uma cara de poucos amigos, é o maior homem que eu já vi na minha vida, um negão carrancudo,olhou pra gente como se fosse nós dois que tivéssemos empurrado a filha dele...hum...Tá mais pra Júlia bater em nós dois.Sorte que a Júlia foi logo em nossa defesa "Foi o gigante e o porco espinho que me trouxeram aqui" Eu era o gigante e o Zé que tinha um cabelo todo arrepiado de gel era o porco espinho.O Zé não usa mais esse penteado,mas eu continuo sendo muito alto então o apelido continua,só que agora ela também aderiu outros, já que uma das características da Júlia é ter uma grande criatividades pra criar apelidos e palavras que não existem.
Zé Carlos levanta a cabeça e olha na direção para onde eu estava olhando antes e na mesma hora abre um sorriso maldoso e bate nas minhas costas:
- É hoje não é?Tinha me esquecido.
E mais uma vez antes que eu pudesse responder a Júlia me corta mais uma vez:
- Como você esqueceu?Ele só falou isso na semana toda.
OHH garota infernal, foi ela que ficou me alugando todos esses dias, apesar de que Zé também não fica atrás.Na realidade os dois falam disso mais do que eu.
Me levanto, arrumo meu material de costa pros dois,sei que eles estão me olhando. Olho mais uma vez pro lugar onde a Denise estava e digo:
- O sinal tocou vamos embora.
Sempre íamos os 3 embora pra casa.O pai carrancudo da Júlia quase que nos obriga a sempre voltarmos os três.A tagarela não tem mãe e ele trabalha o dia todo,então meio que fica nós três na casa da avó do Zé, já que meus país também trabalham o dia inteiro,mas diferente da Júlia eu consigo ficar muito bem sozinho em casa sem me quebrar todo ou tacar fogo na casa.
Hoje era diferente, a gente não ia pelo caminho mais curto, subindo a ladeira atrás da escola, o que parecia ter deixado a Júlia chateada,mas nós dois felizes,já que sempre apostávamos quem subia mais rápido a rua, e mesmo eu tendo pernas longas, quem ganhava era ela,sempre, sempre por pouco,mas sempre era ela.Hoje a gente iria pela praça,na verdade eu achei que só eu ia pra praça,mas quando eu fui andando e percebi que os dois ainda estavam do meu lado,percebi que eles também iriam. "Só espero que não me façam vergonha"
- O que você vai fazer?
Falou Júlia interrompendo a narração da última briga na escola que o Zé teve.Júlia falou baixo , raridade, nem sei como a gente conseguiu ouvi-la
- Júlia deixa de ser burra. "O que você vai fazer?" . Ora o que todos os homens fazem.
Disse Zé imitando como um retardado o que ela falou.Aposto que só respondeu isso porque a Júlia tava do meu lado e não do dele, se não ele iria levar um senhor beliscão.Mas parece que Júlia nem ligou.
- Aposto que não é tão simples
- É sim é só chegar lá e pronto.Eu já fiz isso várias vezes.
O Zé sempre é o mais esperto de nós e não digo isso com ironia, ele sempre sabia das coisas primeiro do que a gente, até montar barraca e acender fogueira ele sabe e nem foi escoteiro, sabe até fazer comida de verdade,sem essas comidas de microondas. Minha mãe é encantada por ele,mas sempre fala disso com um ar de leve tristeza "Sabe se virar porque é órfão"
- Mas não tem nenhuma conversa?
- Claro que não sua tonta.Conversar pra que? O Pedro aqui pode ficar tranquilo que não precisa ficar de blah blah.
-Ainda bem não ia saber o que dizer e nem gosto muito de falar.
O Zé sorriu para mim e balançou a cabeça num sinal afirmativo.Mas Júlia ainda estava quieta e com a testa franzina, pelo visto a resposta não foi o suficiente.Em parte era bom o Zé ta indo também, eu não sei muito dessas coisas, isso eu não sabia por exemplo, provavelmente ia querer falar alguma bobagem antes.
-Como vai ser se ele é m gigante ela nanica?
-Eita menina pra tudo se dá um jeito.
- Que jeito?
- Um jeito ué, na hora eles vão saber.
- E se ela não souber?
- Júlia a Denise não é uma menininha bobona como você. Uma menina linda como ela sempre sabe do jeito certo.
Ai eu tive que segurar a Júlia que já tava indo com a mão fechada pra cima do Zé que olhando pro nada como ele tava nem ia reparar o socão que ia levar.
Enquanto eu tava segurando ela Zé foi logo mandando outra
- Calma Júlia algum dia algum menino também vai querer te beijar
Júlia com um impeto que eu já conhecia se soltou.Logo pensei que o Zé ia levar uma bonita,mas foi ao contrário Júlia preferiu responder:
-Eu não quero que ninguém me beije não ouviu? Isso sim é coisa de menina idiota e espero que você babe ela toda e o beijo seja muito ruim igual a sua cara Pedro.
E lá se foi Júlia com toda aquela raiva que como sempre, inexplicavelmente, se voltou contra mim. Olhando pra ela se afastar e pensando se ela ia chegar bem em casa sinto a mão do Zé no meu ombro.
-Se preocupa não cara você não vai babar,mas por segurança é melhor você cuspir três vezes antes da gente chegar lá.
Eu cheguei na praça tenso,pelo menos com a Júlia lá ela ia ficar falando e ia me distrair um pouco, com o Zé foi um silêncio até chegar na pracinha.Chegando lá fiquei ainda mais nervoso ao ver que além das amigas delas ainda tinha mais um grupo dos nossos colegas de sala lá também.Estavam todos falando alto,mas quando me viram chegando começara a falar baixo.Eu procurei pela Denise mas não estava encontrando ela.Minhas mãos começaram a suar e um embrulho no estomago me deixou ainda mais nervoso com medo de todo mundo ouvir os roncos na minha barriga. "Será que ela desistiu, foi embora.Será que ela realmente me achou muito alto e viu que não ia dar certo ou eu tenho cara de babão?" Antes que eu pudesse formular mais questionamentos pessimistas uma amiga dela veio até a gente disse:
- Ela ta te esperando atrás da quadra
A menina mal olhava pra mim quando disse isso, só tava de olho no Zé e dando o maior sorriso que eu já vi na minha vida
- Tudo bem.
Fui andando,mas parecia que a quadra tinha dobrado de tamanho, ou era eu que tava muito lento?Atras de mim eu ainda pude ouvir o Zé falando alguma coisa e vi que ele também acenou pra mim, mas não conseguia entender o que ele dizia.Ouvia só um som distante e nem estava longe.
Me foquei no olhar na quadra e pude enxergar do outro lado a silhueta da Denise segurando a pontinha da blusa do uniforme me parecendo muito distraída. "Será que o Zé ta certo?Sem conversa?"
Quando fiquei de frente pra ela, ela levantou a cabeça, me olhou com aqueles lindos olhos castanhos e abriu um sorriso sedutor.Respirei fundo, envolvi ela com os braços, tentei limpar minha cabeça de pensamentos, ela veio com facilidade pro meu abraço, fechou delicadamente os olhos e inclinou a cabeça para trás.Percebi que ela tava num altinho que tinha perto da quadra, ficando quase da minha altura. Me inclinei, me obriguei a também fechar o olhos e...
beijei pela primeira vez
Palavra da autora:Somente um conto que eu imaginei numa noite dessas.Só pra gente lembrar como uma coisa tão simples como um beijo, já foi motivo pra tanto nervosismo e ansiedade pra todos nós.
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